A guerra imperial praticada por Israel
Cerca de mil palestinos, incluindo crianças e idosos, já foram mortos por tropas israelenses desde o dia 27 de dezembro
Achille Lollo
No dia 27 de dezembro, o Exército de Israel (Tsahal), o Serviço de Segurança Interna (Shin Bet) e o serviço secreto daquele país (Mossad) desferiram um ataque mortal (terra-ar-mar) contra a Faixa de Gaza, numa operação denominada “Chumbo Fundido”, que até o fechamento desta edição, dia 13, já havia provocado a morte de 919 palestinos, incluindo 277 crianças, 97 mulheres e 92 idosos, de acordo com o chefe dos serviços de emergência de Gaza. Os ataques deixaram ainda 4.100 palestinos feridos e mais de 400 desaparecidos cujos corpos permanecem debaixo dos escombros dos prédios públicos e das casas-alvo dos bombardeios.
Essa operação foi planejada durante os últimos seis meses para acabar com o governo do Hamas na Faixa de Gaza que, apesar de 18 meses de eficaz bloqueio econômico e militar israelense, nunca se rendeu. Outro objetivo estratégico da invasão é o de eliminar todo o grupo dirigente do Hamas e, sobretudo, acabar com seu braço militar, as Brigadas Ezzedim al-Qassam.
A primeira constatação a ser feita é a de que o Chefe de Estado Maior da Defesa israelense, general Gaby Ashkenazy, determinou um excepcional grau ofensivo para atacar por ar, mar e terra todo o território da Faixa de Gaza, utilizando para isso uma capacidade bélica semelhante a dos EUA na última investida contra o Iraque de Saddam Hussein.
Por outro lado, com a operação “Chumbo Fundido”, o Tsahal e o Shin Bet querem resgatar a derrota política e militar que o Hezbollah infligiu a Israel, em 2006, no sul do Líbano.
É nesse âmbito que os porta-vozes do Estado Maior e do Ministério das Relações Exteriores – contando com a benevolência da mídia ocidental e do forte lobby das comunidades judaicas no exterior – passaram a justificar a violência contra os civis palestinos como um ato de “auto-defesa”, responsabilizando o Hamas por utilizar as mesquitas e as escolas – inclusive aquelas administradas pela ONU – como “escudo humano” dos guerrilheiros ou pontos de lançamento de foguetes ou morteiros.
Essas mentiras foram legitimadas pelo presidente Shimon Perez. Porém, no dia 9, veio o primeiro desmentido no jornal israelense Haaretz. Chiris Gunnes, porta-voz da agência da ONU para Refugiados revelou que: 1) na escola da ONU bombardeada em Jabaliya morreram 40 civis, na maioria crianças e mulheres; 2) Não havia guerrilheiros; 3) Os militares israelenses manipularam a opinião pública com uma foto de 2007, quando na escola houve uma manifestação de militantes do Hamas.
Massacrar os civis
Muitos observadores, entre eles o cardeal Martini, denunciaram o Exército israelense por estar enveredando na vertente da violência feroz contra os civis e equipararam os sofrimentos dos palestinos de Gaza ao dos judeus europeus perseguidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma tese que, evidentemente, enfurece o governo e os militares israelenses. Porém, se, de fato, não pode haver comparação política entre Estado nazista e Estado sionista, a atuação do Tsahal e do Shin Bet é talvez mais criminosa por se tratar de instituições de um Estado democrático (mesmo se restrito só aos judeus e árabes israelenses) e não de um regime ditatorial como foi o nazismo hitleriano.
O problema é que 81% da população israelense apoiaram a operação “Chumbo Fundido” sabendo o que os civis palestinos iriam sofrer. Matar palestinos virou corriqueiro
Para o Exército israelense (que não é formado por mercenários, mas por reservistas) o apoio da maioria da opinião pública foi fundamental para cumprir os objetivos da operação “Chumbo Fundido”. Por isso, a pressão internacional ou a morte de 500 ou mil palestinos não vão sensibilizar os homens do Tsahal.
Para o Terceiro Reich de Hitler, a solução final do Holocausto dos judeus europeus não era uma necessidade estratégica, mas sim uma forma para sustentar ideologicamente o nazismo na Europa. Agora, para os comandantes do Tsahal e do Shin Bet, o massacre dos civis é um objetivo estratégico que visa desarticular a confiança que os palestinos de Gaza mantêm no Hamas.
Portanto, o sistemático bombardeio de escolas, mesquitas e casas populares – além de reforçar o ego-vingador do sionismo – é uma chantagem moral para destruir a imagem do Hamas na Palestina. Foi por isso que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, considerou o bombardeio a Gaza terrorismo de Estado.
Por outro lado, essa invasão em Gaza – bem como todos os ataques e massacres perpetrados pelo Estado de Israel desde 1948 – visa, antes de tudo, impor, ao mundo árabe, o respeito pela cidadania israelense, o direito sagrado dos judeus sobre as terras dos palestinos e a aceitação de que o Estado sionista é o bastião do Ocidente no Oriente Médio, principal fornecedor de petróleo para os EUA e Europa.
Potência nuclear
Não foi por acaso que os EUA transformaram Israel em potência nuclear, enquanto os programas de paz (Camp David, Oslo, Taba e por último Annapolis) nunca definiram uma paz eqüitativa entre judeus israelenses e palestinos. Pelo contrário, Carter, Clinton, Bush, Margareth Thatcher, Condoleezza Rice, Tony Blair, Moubarak, Sarkozy, Javier Solana e por último Benita Ferrero-Waldner visaram legitimar, apenas, o conceito estratégico de um Estado judaico soberano dando aos palestinos só o direito de serem reconhecidos como uma minoria sem alguma perspectiva de soberania nacional.
De fato, em 2008, Dov Weisglass, braço direito de Sharon, explicava que “o inteiro pacote denominado Estado Palestino, com todas suas implicações, foi removido da agenda das negociações por tempo indeterminado e Abu Mazen e a cúpula dirigente do Fatah – conscientemente ou não – aceitaram o texto da conferência de Annapolis”. De fato, foi a partir desse momento que o Hamas endureceu as relações com o Fatah, inclusive após o primeiro-ministro da ANP Salam Faiyad ter assinado com Condoleezza Rice um acordo para a CIA treinar e organizar a polícia palestina na Jordânia.
Achille Lollo é jornalista italiano, diretor do filme “América Latina: Desenvolvimento ou Mercado?”, também em DVD, em www.portalpopular.org.br.
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