segunda-feira, 9 de março de 2009

Frei Betto: A mão invisível

Foto Divulgação

Autor de “ A Arte de Semear Estrelas”

Rio - Desde criança tenho, como todo mundo, meus medos: de ver meu pai bravo, de ser obrigado a comer jiló, de tirar zero na prova de matemática. Hoje, coleciono outros medos. Um deles, medo da mão invisível do mercado. Onde ele a enfia? De preferência, no nosso bolso.

Em especial, no dos mais pobres. Ela é invisível porque safada, como todo delito praticado às escondidas. Por exemplo, o mercado pratica extorsão no bolso dos mais pobres através dos impostos embutidos em produtos e serviços.

Agora que o mercado entrou em crise – pois a bolha que inflou estourou na cara dele – onde anda enfiando a sua mão invisível? A resposta é visível: no bolso do governo. Nos Estados Unidos, o mercado, no final da administração George Bush, meteu a mão em US$ 830 bilhões e, agora, arranca mais US$ 900 bilhões da administração Obama. Tudo para enfiar essa fortuna no bolso furado do sistema financeiro.

Viciada, sempre beneficia o bolso dos ricos. É o caso do Brasil. Diante da crise (e das próximas eleições) o governo trata de anabolizar o PAC, de modo que a mão do mercado possa abastecer o bolso das empreiteiras e das empresas privadas encarregadas das obras.

Acho que a mão do mercado é invisível porque jamais se lava. Ao contrário, lava dinheiro sem se lavar da sujeira que a impregna. É o que deduzo ao ler a notícia de que, nos paraísos fiscais, a liquidez dos grandes bancos foi assegurada, nos últimos anos, graças aos depósitos do narcotráfico.

A mão pode ser invisível, mas suas impressões digitais não. Onde o mercado bota a mão, fica a sua marca. Sobretudo quando tira a mão, deixando ao relento milhares de pobres desempregados.


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Um comentário:

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Gostei de mais do seus textos. Professor de história? Legal!
Um abraço