terça-feira, 26 de maio de 2009

O lado que a Globo não mostra.


O Rio Ganges (ou Benares) é um dos sete rios sagrados da Índia, cujas águas são formadas pelo degelo das enormes montanhas do Himalaia. Nasce no Tibet, atravessa o norte indiano, desaguando no Oceano Índico. Possui uma ligação muito forte com a cultura e a religião indiana.

É muito importante para a população, que vive em suas margens, pois é dele, que ela retira a água e os alimentos que consome. Sendo muito favorecida nos períodos das chuvas, quando as enchentes do rio atingem uma área de mais de 150 quilômetros e com isso proporciona uma ótima fertilização de sua margem, ideal para o plantio de alguns produtos, como: trigo, arroz, algodão, açucares e vários outros gêneros agrícolas.

O Ganges possui um grande valor espiritual, para os adeptos do hinduísmo, que tomam banho nas suas águas, crendo que o rio possui a capacidade de purificá-los de todos os pecados. Pessoas idosas vão ali para morrer, pois se falece nesse local sagrado, o seu ciclo de reencarnações termina, ficando livre da Roda de Samsara, conforme prega o hinduísmo.

Nas águas do Ganges, milhões de pessoas fazem o ritual de purificação. Sendo, sem dúvida, um dos maiores centros de peregrinação do mundo, principalmente durante o festival religioso Ardh Kumbh Mela, quando as estradas ficam apinhadas de peregrinos.

Nas suas margens, há vários postos de cremação, onde os mortos são queimados, ininterruptamente, e as cinzas encontram o destino final em suas águas. As famílias que trazem seus mortos, para serem cremados, acreditam que esses serão purificados e se libertarão da servidão material.

Na Índia, a tradição de se banhar no rio Ganges não foi interrompida, apesar de sua crescente poluição. Milhões de hindus banham-se ali, para se purificarem dos pecados e ascenderem a uma nova reencarnação, numa casta superior à que estava.

Milhares de devotos banham-se, oram, oferecem velas acesas, bebem sua água e lançam-lhe as cinzas e os ossos de seus entes queridos, cremados nas escadarias (os “ghats”) desse mesmo “rio santo”. Quem não pode pagar a cremação de seus familiares, joga os corpos no rio ou os deixa apodrecer nas margens. E muitas mães afogam seus filhos recém-nascidos, principalmente meninas, como sacrifício aos deuses (embora alguns julguem que seja, para não terem que pagar dote, quando casarem).

O Rio Ganges é um mundo à parte. Nele, pessoas lavam roupas, tomam banho, escovam os dentes, assim como vacas podem ser vistas, mortas ou vivas, dentro de suas águas. Além disso, águas de enxurradas vindas das ruas, cheias de cocô de humanos, de vacas, de porcos, de cachorro e outros animais são despejadas no rio. Somente na cidade de Varanasi existem 32 saídas de esgoto para o Ganges, o que torna as peregrinações muito perigosas.

A Organização Mundial de Saúde vem estudando uma forma de despoluir esse rio, que é a principal causa da mortalidade infantil na região. Mesmo assim, é impossível não notar os rostos felizes, cheios de paz e espiritualidade que emergem de suas águas. Sendo inútil qualquer tentativa de proibir que bebam dessas mesmas águas ou que se leve garrafas cheias com a “água sagrada” para casa, para supostos tratamentos.

Os fiéis caminham quilômetros para descer até o Ganges e esperam, pacientemente, sua vez, para lavar nele seus pecados, nos poucos metros de faixa de água habilitados para esse ritual. Liderados por sadhus (homens considerados sagrados), eles cobrem o corpo de cinzas e correm para o rio, sem roupa, usando apenas guirlandas de flores.

Curiosidades:

  • A cena de imensas fogueiras, para cremar os corpos dos mortos, se repete todos os dias.
  • As mulheres estão proibidas de assistirem às cerimônias de cremação, porque ao chorar, impedem que a alma vá para o Nirvana.
  • Antes de serem cremados, os corpos são lavados nas águas do rio, depois colocados para escorrer o excesso de água.
  • É comum ver famílias tirando fotos ao lado do morto, na sua pira crematória.
  • O parente, que acende a fogueira, tem a cabeça toda raspada, em sinal de luto. Ao final da cremação todos os familiares presentes deverão tomar um banho no rio.
  • Os ossos da bacia feminina e do peito masculino não queimam completamente, sendo os restos jogados no Ganges.
  • Não são cremados: bebês, crianças de até 5 anos de idade, brâmanes, mulheres grávidas, sadhus, iogues, pessoas que morreram picadas por cobras, vítimas de hanseníase ou varíola e animais. São amarrados a uma pedra e jogados no fundo do rio. Muitas vezes os cadáveres desprendem das pedras e voltam à superfície, sendo muitos corpos devorados por animais.
  • Quando o rio está com baixo volume de água, o “ghat” fica com três níveis: inferior, médio e superior. As cremações, então, ocorrem por castas. A casta inferior é cremada no nível mais baixo do solo e a casta mais alta no nível mais alto.
  • A madeira usada para a cremação, nas castas mais altas, é o sândalo.
  • Homens são enrolados em tecido branco, mulheres em vermelho, idosos em roxo.
  • A casta mais alta tem um forno especial.
  • Na beirada do rio ficam muitos garimpeiros, peneirando as cinzas, na tentativa de achar alguma joia que tenha sido esquecida pela família do morto.
  • O crematório ou “burning ghat” funciona dia e noite e os corpos chegam o tempo todo e de toda maneira.
  • Um pequeno caminhão leva um funcionário com uma vara, que vai cutucando as pessoas deitadas, no período de peregrinações. Não havendo movimentos por parte dessas, são carregadas como supostamente mortas.
  • Os intocáveis só podem vestir roupas dos mortos.

No Rio Ganges, a vida e a morte andam de mãos dadas, numa permanente festa.


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