sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Os erros do governo Lula

A minha sugestão para o fora de pauta é sobre um tema que vejo algumas pessoas comentarem aqui e ali, mas sinto falta de maior discussão. Que tal falarmos sobre os principais pontos fracos/erros do governo Lula? Os acertos são mais do que comentados aqui, dia sim, dia não. Porém, os erros, não os vejo tão analisados. Talvez isso ajudasse a satisfazer os anseios da turma que acha que a maioria aqui é chapa branca. Já cansei de elogiar o Lula e o governo dele, mas tenho as minhas críticas. Ei-las:

1. aceitar a China como economia de mercado, acreditando que ela apoiaria a legítima ambição brasileira de obter um assento permanente no Conselho de Segurança. Dificilmente a China aceitará um CS no qual o Japão seja membro permanente (Brasil e Japão estão no mesmo barco);

2. ser excessivamente conciliador, de um modo geral;

3. ser leniente em situações específicas que mereceriam maior assertividade: (i) afastamento e “exílio” do Paulo Lacerda e afastamento e possível exoneração do Protógenes; (ii) troca do ministro da Defesa (e foi colocar justamente quem? O Nelson Jobim?!) durante a “crise” fabricada pela mídia (o “Caosaéreo”); e (iii) não ter chamado Gilmar Mendes às falas por ocasião do grampo que não houve;

4. levar a reforma agrária em banho-maria;

5. não encaminhar ao Congresso legislação legalizando o aborto, o casamento de homossexuais e a descriminalização de todas as drogas atualmente consideradas ilegais;

6. ter firmado a recente Concordata com o Vaticano. Sou absolutamente contrário a qualquer tipo de ensino religioso – independentemente de credo – em escolas públicas. Se é para fazer proselitismo religioso, que isto seja feito na própria igreja, mesquita, sinagoga, templo ou que tais e não em escolas públicas. Ah, sim, e com dinheiro exclusivo dos seus respectivos fiéis. Por isso, acredito que o Executivo deveria propor legislação para acabar imediatamente com essa palhaçada de isenção fiscal para atividades religiosas. Por que eu, que sou ateu, sou obrigado a cobrir esse buraco criado por essas isenções?;

7. de um modo geral, acho que o governo federal, principalmente neste segundo mandato, deveria ter ousado mais, no sentido de efetivamente sedimentar os enormes avanços na distribuição de renda e resgate dos mais desassistidos. Ainda acredito que, em 2010, Lula irá, mais uma vez, nos surpreender positivamente;

8. o governo federal já poderia ter, há muito tempo, mandado o Meireles & Cia. para escanteio. Quem tem de efetivamente mandar no BACEN é o governo eleito; jamais seguidores da cartilha torta do mercado. Um artigo da Marilena Chauí, ainda pré-posse de 2003, cantava a bola: “quem manda é o governo eleito. O papel do tecnocrata é executar aquilo que o governo determina” (não necessariamente com essas palavras). Ainda nesta linha, acredito que o governo federal já poderia, desde o primeiro dia de governo, ter ordenado que o BB e a CEF baixassem radicalmente as taxas de juros cobradas nos empréstimos aos clientes, para forçar os bancos privados a diminuírem o spread, que, no Brasil, é obsceno;

9. Lula, aparentemente, aceitou a imposição de condições (temas sensíveis decididos por meio de voto qualificado) do Saad (Rede Bandeirantes de TV) para participar do CONFECON. Se isso realmente ocorreu, ele deveria ter mandado o Saad ir pastar; e

10. o Executivo deveria ter aproveitado a enorme popularidade, para forçar a votação da reforma política.

11. Tem mais, muito mais. Por exemplo, acabar com essa palhaçada que são as agências reguladoras, que regulam o modo como os consumidores podem ser legalmente explorados; rever detalhadamente o modo como as “privatizações” foram feitas e, se for o caso, retomar sem indenização tudo aquilo que foi vendido a preço de banana (só os lucros absurdos que tiveram ao longo desses anos mais do que cobrem qualquer indenização).

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/01/01/os-erros-do-governo-lula/

Um comentário:

turquinho disse...

Eu diria que tem mais uma: Não ter encaminhado alteração estrutural na lei que rege as telecomunicações a fim de regularizar as rádios e tvs comunitárias, democratizando a midia.Embora a Cofecom tenha norteado com interessantes propisições corre o risco de ficar no papel.