sexta-feira, 16 de julho de 2010

Profissão das minorias

Profissão das minorias

por cristiano última modificação 16/07/2010 14:03

Entre os operadores de telemarketing, predominam jovens, mulheres, negros e homossexuais

As pesquisas relacionadas ao setor de telemarketing revelam dados inquietantes. Entre os operadores, há uma predominância massiva de jovens e de mulheres. Além disso, o índice de negros, obesos, homossexuais, transexuais e deficientes físicos é acima da média em outras categorias. Enquanto empresários do setor louvam tal perfil, afirmando que o setor seria mais “democrático”, os estudiosos não são tão otimistas. As causas da constatação revelariam distúrbios sociais, além de novos indícios de precarização do trabalho. O motivo principal do predomínio de setores sociais marginalizados seria a invisibilidade permitida aos operadores.

Do outro lado da linha, os potenciais clientes não percebem se o trabalhador é negro, homossexual ou obeso. E, por não encontrarem oportunidade em carreiras mais valorizadas, esses setores terminam por se contentar com o telemarketing. Como não existe uma perspectiva de carreira, eles estão condenados a permanecer na função. Transexuais afirmaram, em entrevista para a pesquisa, que se não puderem trabalhar nos setores que tradicionalmente os emprega – moda, por exemplo – eles não têm tantas opções.

O predomínio de jovens entre os operadores é fácil de se explicar – a profissão não exige grandes qualificações. Porém, o dado que mais impressiona é a presença de mulheres. Segundo estudos, de 76% a 85% dos trabalhadores são do gênero feminino. Segundo a socióloga Selma Venco, isso se dá por conta “de uma construção social histórica sobre a presença da mulher no trabalho”. Consideradas mais dóceis e delicadas, seriam mais capazes de dar tratamento adequado aos clientes. Os homens ficariam com o cargo de chefia (os dados revelam, inclusive, que homens abandonam com maior frequência a função de operador).

Para Claudia Mazzei Nogueira, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), não há uma predominância das mulheres apenas nesse setor. Todas as profissões com jornada parcial demandariam trabalho feminino. Por permitir maior tempo às tarefas domésticas, as carreiras seriam ideais às mulheres. “E a própria mulher legitima essa situação. Ela acha satisfatório, porque pode cuidar dos filhos”, lamenta. A predominância de homossexuais também teria relação com o jeito dócil de tratar o cliente.

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