Professor Edney Silva Mesquita: Rede Globo, você está sendo manipulado

Frase do general-ditador Emílio Garastazu Médici: “Sinto-me feliz todas as noites quando assisto o noticiário. Porque, no noticiário da Globo, o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz”

A história da Rede Globo de Televisão confunde-se com a da Ditadura Militar, uma nasceu da outra, para servi-la e representar o que há de mais conservador na sociedade brasileira. Em 1965, após um acordo com a norte-americana Time-Life, que injetou milhões de dólares (ilegalmente) na empreitada de Roberto Marinho em construir uma emissora de televisão.

A obtenção da concessão para criar a Globo foi o resultado do apoio dado pelo jornal da família Marinho ao golpe militar de 1964 e o apoio irrestrito que deu ao regime militar que torturou e matou brasileiros que se opunham a ele.

Um capítulo a parte na história da emissora do Jardim Botânico é a do seu principal telejornal, o Jornal Nacional. Foi ao ar em 1969, criando uma forma de noticiar para agradar o regime militar: destacavam tragédias, guerras, fome na parte internacional e, na nacional, só maravilhas. Você via um Brasil que só existia na tela da Globo, sem miséria, sem conflitos, um paraíso.

A emissora cresceu, modernizou-se e tornou-se rede nacional, tudo com publicidade oficial dos diversos governos militares. Tornou-se senhora da audiência com um padrão de qualidade que imitava as TVs norte-americanas, privilegiando a forma (qualidade técnica) em detrimento do conteúdo.

Quando, nos anos 80, o regime militar agonizava, o povo foi para as ruas pedir por eleições diretas para presidente, era o Movimento das Diretas-Já de 1984. Milhões de pessoas ocupavam ruas e praças em gigantescos comícios (o maior deles, com mais de um milhão de pessoas, em São Paulo). Artistas, esportistas, políticos de oposição, líderes sindicais e estudantis revezavam-se nos discursos exigindo o seu direito de votar para presidente da república.

As Diretas-Já mobilizavam o país e a Rede Globo não noticiava absolutamente nada. É como se nada acontecesse nas ruas. Veja este trecho do filme ‘Muito Além do Cidadão Kane’ no qual o JN noticia um comício da diretas como festa de aniversário da cidade de São Paulo:

Nas eleições diretas para governadores de estado, em 1982, a Globo, em conluio com o regime militar, participou ativamente de uma tentativa de fraudar as eleições no RJ. A vitória de Leonel Brizola, um dos principais opositores da ditadura militar, não agradava os milicos que, apesar de falarem em ‘abertura política’, não desejavam engolir um dos seus principais rivais. As denúncias do candidato fizeram o esquema de fraude fracassar.

Nas eleições de 1989, novamente a Globo foi decisiva. A possibilidade de candidatos de esquerda (Lula e Brizola) ganhar as eleições levou a emissora a criar um candidato que, além de tudo, era sócio da emissora com o controle da retransmissora em Alagoas: ‘nascia’ Fernando Collor de Melo. Os noticiários da emissora davam amplo destaque ao candidato, criando a imagem do ‘caçador de marajás’, um combatente da corrupção. Quando da cassação de Collor, em 1992, justamente por corrupção, a emissora fez de conta que não tinha nada com isso.

Um dos episódios mais emblemáticos da manipulação da informação praticado pela Rede Globo foi o debate final destas eleições. Na véspera do pleito, o JN exibiu um compacto do debate realizado no dia anterior onde destacava os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. Veja mais sobre o tema no link abaixo:

A versão da Globo:

http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,5270-p-21752,00.html

Veja os responsáveis pela falcatrua jogando a culpa um no outro:

Os movimentos sociais sempre foram tratados de forma a criminalizá-los. Greves eram tratadas como baderna de vagabundos, invasões do MST em terras griladas por fazendeiros são tratadas como atos de vandalismo praticados pelos camponeses. Por outro lado, longas matérias valorizam o agronegócio, responsável pela devastação de florestas e do cerrado. Líderes ruralistas e empresariais sempre tem a última palavra em reportagens sobre conflitos com trabalhadores.

O fato de a Globo ter uma postura conservadora, de direita, não é o problema. Na democracia deve existir espaço para todas as tendências ideológicas e interesses de grupos manifestarem suas opiniões. O problema é justamente o monopólio do espaço midiático ocupado por esta emissora. Estabeleceu-se como padrão que, se não apareceu no JN, não aconteceu.

Além do controle da difusão televisiva, a Globo ainda produz quase tudo do que veicula, fechando o espaço para o crescimento do setor de produção audiovisual. A PL 29 foi duramente combatida pela Globo, através de sua emissora a cabo, a SKY. Acusam a medida de estabelecer censura, mas na prática teriam seu monopólio afetado por uma regulamentação estatal (debatida pelo Legislativo), que a faria ter que comprar parte do que veicula de produtoras independentes.

Além disso, o medo da concorrência das empresas de telefonia, que desejam entrar no mercado de TVs a cabo, também move a Globo no sentido de impedir a aprovação da medida, haja vista que o mesmo monopólio que tem na TV aberta também repete-se na TV fechada.

O jornalista Luís Nassif trata dos efeitos da PL 29 para a Globosat neste artigo:

http://blogln.ning.com/profiles/blogs/sky-e-o-pl-29

A questão da concorrência também levou a Globo a atacar a Rede Record, que revidou através da matéria abaixo, veiculada em um dos seus telejornais:

Evidentemente que a Record não é isenta, é propriedade de uma igreja envolvida com falcatruas e exploração da boa fé pública. Mas é através destes confrontos entre canalhas que as verdades afloram.

O poder e influência desta emissora é tamanho que o documentário “Muito Além do Cidadão Kane”, dirigido por Simon Hartog e exibido no Reino Unido em 1993 pelo Channel 4, nunca foi lançado ‘legalmente’ no Brasil. A não admissão da crítica mostra a verdadeira face da Globo, a face fascista (eita trocadilho ruim!).

Graças à internet, milhões de brasileiros puderam ter acesso ao filme que, apesar de ter sido produzido no início da década de 1990, ainda mantém a atualidade.

Para quem quiser ver o documentário ‘proibido’ no Brasil pela Rede Globo, aqui está um link indicado pelo seguidor William Andrade:

http://docverdade.blogspot.com/2009/03/beyond-citizen-kane-muito-alem-do.html

Desde a redemocratização do país, em 1985, NUNCA a Rede Globo, o jornal ‘O Globo’ e a revista ‘Época’ deixaram de atacar partidos e candidatos de esquerda, nunca deixaram de repercutir exaustivamente mentiras criadas pela direita para tentar vencer as eleições através da manipulação.

As emissoras de rádio e televisão só podem funcionar com concessão do Estado, renovada periodicamente. Em outras palavras, as emissoras de radiodifusão exploram uma concessão pública, mas não são fiscalizadas e, quando alguém aventa tal possibilidade, os empresários de comunicação já falam em censura. Aquilo que é público é de todos, portanto, vão à merda estes putos que sempre falam em censura quando órgãos do Estado tentam estabelecer limites para os abusos que cometem. Em vários países democráticos, a questão das concessões para emissoras são amplamente discutidas e, caso tenham ocorrido abusos (veiculação de informações falsas, sensacionalistas), podem ser punidas com a cassação da concessão.

Por aqui, ‘liberdade de imprensa’ virou ‘liberdade de empresa’ (de comunicação)!
Esta edição, que utiliza trecho do filme ‘Matrix’, é genial como crítica à dona da mídia no país: