domingo, 10 de abril de 2011

Dilma na China e os “conselhos” da mídia


Por Altamiro Borges

De 11 a 15 de abril, a presidenta Dilma Rousseff visitará a China. Cerca de 300 empresários participam da comitiva, que tem como principal objetivo estreitar e aperfeiçoar a “parceria comercial” entre as duas nações “emergentes”. Há fortes interesses econômicos em jogo e vários pontos de divergência na pauta, que serão motivos de tensas negociações de bastidores.

A China é hoje o maior parceiro e investidor no Brasil, tendo superado os EUA. O comércio entre os dois países somou US$ 56 bilhões em 2010, com saldo favorável ao lado brasileiro de US$ 5 bilhões. No mesmo período, os investimentos chineses atingiram US$ 19 bilhões, em projetos de petróleo, mineração, siderurgia e energia. Esta parceria, porém, tem assimetrias.

Relações assimétricas

O Brasil exporta matérias-primas, com baixo valor agregado, e importa manufaturados chineses. Atualmente, cerca de 90% das nossas exportações estão concentradas em quatro produtos (minério de ferro, soja, petróleo e celulose). Já a crescente importação de produtos industrializados da China tem afetado as empresas nacionais, que chiam da concorrência desigual.

A comitiva brasileira, encabeçada pela presidenta Dilma Rousseff, pretende rediscutir esta parceria. Mas, segundo notícias da própria imprensa colonizada, ela não pretende fazer o jogo dos EUA, que tentam sair da sua grave crise econômica acirrando a guerra comercial – em especial contra a China. A idéia é promover ajustes para reforçar a parceria, e não implodi-la.

A histeria da imprensa colonizada

Nesta disputa de gigantes, chama à atenção a postura da mídia colonizada. Quando a visita de Barack Obama, em março, ela bajulou os EUA e pregou o retorno do “alinhamento automático”, praticado no triste reinado de FHC. Tentando colocar uma cunha entre Lula e Dilma, ela criticou o “antiamericanismo” do governo anterior e elogiou o “pragmatismo” do atual governo.

Diferente da relação com a China, na qual o Brasil ainda goza de saldo positivo na relação comercial, apesar das assimetrias, no caso dos EUA a tal “parceria” é totalmente desvantajosa. O déficit comercial brasileiro com os EUA é de US$ 7,8 bilhões. Apesar disso, a mídia fez tietagem na visita do presidente ianque e agora “aconselha” Dilma a ser dura contra a China!

Folha posa de “nacionalista”

Em editorial, a Folha até esbanja argumentos “nacionalistas” – logo ela sempre tão privatista e serviçal diante dos EUA. Após criticar o governo Lula pelo “entusiasmo – um tanto míope – com o superávit” no comércio com a China, o jornal sugere “mecanismos de defesa comercial” contra o atual parceiro, “que passou a ameaçar seriamente a indústria nacional”.

A Folha ainda propõe que se rediscutam os investimentos. “Ao lado brasileiro interessa receber investimentos, mas é preciso cautela com a predileção das estatais chinesas pelo setor de recursos naturais. O Brasil não deve permitir que governo estrangeiro controle um excesso de ativos em mineração, terras e cadeias de produção agroindustrial”. Haja nacionalismo!

Estadão prega rompimento

Mais agressivo ainda, o editorial do Estadão “aconselha” a presidenta a abandonar o “terceiro-mundismo” de Lula. Para o jornalão, a visita à China será “o teste diplomático de Dilma”. Ele sugere que o Brasil não reconheça a potência asiática como “economia de mercado”, como havia sido prometido pelo governo anterior durante visita de Hu Jintao a Brasília, em 2004.

“O compromisso assumido pelo presidente Luiz Inácio da Silva, há sete anos, foi, mais que um excesso, uma imprudência... A China obviamente não é uma economia tão sujeita às regras de mercado quanto a maior parte das outras associadas à OMC... A promessa precipitada refletiu uma concepção particular – e ingênua – de alianças estratégicas”, esbraveja o velho Estadão.

Servilismo diante dos EUA

A visita de Dilma Rousseff será, de fato, um marco nas relações com a China. Tudo indica que medidas serão discutidas para corrigir assimetrias e para defender os interesses nacionais. Isto, porém, não tem nada a ver com o que “aconselha” a mídia colonizada. Ela não está preocupada com os interesses nacionais, mas sim com as ambições do império. As suas críticas histéricas ao chamado “terceiro-mundismo” do governo Lula revelam, na verdade, o seu eterno servilismo diante dos EUA.

Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com/

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