sexta-feira, 1 de abril de 2011

Porque Angra é diferente de Fukushima

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O plano de emergência para evacuação de área quando em casos de desastres nucleares aplicado no Japão é semelhante ao esquema adotado pelo Brasil na região de Angra dos Reis, onde operam hoje as usinas Angra 1 e Angra 2.

O especialista em análise de acidentes em usinas nucleares e presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear, (Aben) Edson Kuramoto, explica que a cada dois anos a população é submetida a um treinamento de evacuação de área que envolve unidades de defesa civil do estado, município, exército e marinha.

As ações para retirada de pessoas acompanham uma simulação de propagação de material radioativo iniciado pela retirada de pessoas a 5 km de distância da usina, por exemplo, depois a 10 km, e assim por diante.

A região de Angra dos Reis foi escolhida para a construção da primeira usina nuclear brasileira, da década de 1970, por ser relativamente afastada dos centros urbanos, inabitada. Hoje a cidade não só abriga os funcionários das duas usinas e seus familiares, como uma população de 169 mil habitantes, para uma área de 825 km2. A beleza natural e a construção da BR 101, facilitando a mobilidade, são os principais fatores para o desenvolvimento da cidade.

Kuramoto destaca que os riscos do Brasil sofrer um acidente igual ao que ocorreu nas três centrais nucleares japonesas - Onagawa, Fukushima e Tokai – são muito pequenos. Para começar, a probabilidade de ocorrer um terremoto, e da mesma magnitude que atingiu o Nordeste do Japão, de 9,0 graus na escala Richter, é bastante remota no Brasil. Já a probabilidade de um tsunami dessa magnitude é de a cada milênio. Acredita-se que o último tenha sido responsável por afundar Alexandria.

O segundo ponto levantado pelo engenheiro é que a tecnologia das usinas de geração e distribuição do Japão é do tipo BWR, consideradas menos seguras que as do tipo PWR, utilizada no Brasil. Em primeiro lugar, o sistema de refrigeração do reator nuclear de Fukushima é único, ou seja, a água que passa pelo circuito de resfriamento é a mesma que é posta em contato com o reator. Enquanto que o sistema de refrigeração do reator do tipo PWR é independente, separado em sistemas primário e secundário.

Em segundo lugar o resfriamento das usinas BWR para atmosfera ocorre através de válvulas, de contato direto com o núcleo do reator para o meio ambiente. Nas usinas brasileiras, a válvula de alívio e segurança fica no sistema secundário, sem contato com o núcleo do reator. Por último, a fonte de água usada para resfriar um reator do tipo de Fukushima é apenas uma: água do mar. As usinas de Angra 1 e Angra 2 utilizam sistemas auxiliares, de água de alimentação auxiliar de emergência e de proteção contra incêndio.

Acesse resumo para comparação de usinas em Fukushima e Angra

Mesmo com todas as diferenças estruturais que facilitam a contaminação do meio por acidente, as usinas japonesas foram capazes de resistir um dos terremotos mais fortes já registrado desde que a escala Richter foi desenvolvida, em 1935. Seus sistemas desligaram automaticamente, conforme o programa de segurança previa. O problema foi o tsunami, que interrompeu o processo de resfriamento de combustível iniciado logo após o terremoto.

As usinas japonesas foram projetadas para suportar um impacto de onda de 5 metros, sendo que as ondas que chegaram às usinas foram de 10 metros, explica Kuramoto.

Programa nuclear brasileiro

Segundo dados da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), entre 2004 e 2010, os investimentos no setor foram multiplicados por 5, alcançando os R$ 60 milhões, que envolvem não só a produção de energia, mas o uso médico e industrial, nas áreas de mineração e esterilização de alimentos, por exemplo, da física nuclear.

O PDE 2030 (Plano Decenal de Energia) também prevê investimentos nessa fonte energética. O Brasil tem a 6ª maior reserva de urânio do mundo, tendo prospectado apenas 30% de todo seu território. Isso quer dizer que há possibilidades do país ter a 2ª maior reserva do planeta, estimada em 900 mil toneladas de minério. "Esse potencial energético é equivalente ao estimado para o pré-sal", completa Kuramoto.

Em 2030 o país estará consumindo o dobro de energia que consome hoje. Até lá, o potencial hidrelétrico estará esgotado, por isso o PDE 2030 prevê investimentos na diversificação da matriz energética brasileira. Quanto à energia nuclear, a ideia é que sua participação geral continue em 3% da matriz, a partir da implantação de pelo menos cinco novas usinas, entre elas Angra III, já em construção e estimada em R$ 10,4 bilhões.

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