segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quase 45% da população da cidade recebe até dois salários mínimos. Por outro lado, aproximadamente 12% possui a renda superior a dez salários mínimos


A cidade que tem a maior proporção de ricos no Brasil mostrou que ainda é desigual e forma bolsões de pobreza próximos aos bairros de luxo. Quase 45% da população de Niterói acima de 10 anos, que possui algum rendimento, recebe até dois salários mínimos. Por outro lado, aproximadamente 12% possui a renda superior a dez salários mínimos. A informação faz parte dos dados do Censo 2010 divulgados esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O extremo da cidade é o bairro de Jurujuba, onde mais de 51% dos moradores recebem até um salário mínimo. Na outra ponta, Camboinhas e Itacoatiara, com a maior proporção de moradores ganhando acima de 20 salários mínimos. De acordo com o professor de sociologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Ignácio Cano, os bairros apresentam características históricas sociais.

“Em Jurujuba, o bairro foi habitado por pescadores que utilizam o mar para tirar o seu sustento. Os pescadores dependem da produção da pesca para sobreviver. Do outro lado, os moradores de Camboinhas escolheram a proximidade do mar por questão de luxo e status. Ter uma casa próxima à praia é o sonho das classes mais altas”, explica o professor.

O pescador Luiz Cláudio Salena, de 54 anos, conhece bem esta situação. Nascido e criado em Jurujuba, aprendeu a profissão com o pai e passou para os dois filhos. Ele lembra que 20 anos atrás tirava até quatro salários mínimos do mar, mas hoje a situação é bem diferente.

“Eu sou pescador há 40 anos. No tempo de alta da pesca, eu conseguia trazer para a areia quase 50 toneladas de peixe por semana, que me rendia até quatro salários mínimos. Hoje, para trazer quatro toneladas por semana, é muito difícil, o mar tem que estar muito bom para peixe. Geralmente, consigo um pouco mais de um salário mínimo”, declara Luiz Cláudio.

Quando se avalia a renda mensal mediana, valor limite entre a metade da população que ganha mais e a metade que ganha menos, a diferença entre os bairros se torna mais visível. Jurujuba, Morro do Estado, Baldeador, Caramujo, Ititioca, Viradouro e Viçoso Jardim apresentam maioria de moradores ganhando menos de R$ 600. Enquanto, entre os moradores da Boa Viagem e Itacoatiara a renda mediana fica acima de R$ 3 mil. Segundo a coordenadora do Observatório Fundiário Fluminense da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ana Maria Motta Ribeiro, as áreas mais pobres costumam dividir espaço com bairros ricos.

“A distribuição do espaço tem a ver com a renda. Geralmente, a disposição da classe alta atrai os bolsões de pobreza, já que a mão de obra não qualificada busca emprego de doméstica, babá, porteiro, pedreiro e outras atividades, nos bairros de classe alta. Este reservatório de mão de obra acaba morando em lugares sem planejamento urbano, dando origem ao crescimento desordenado e favelização. Por isso, a proximidade de bairros da Zona Sul com comunidades”, explica a especialista.

Para a dona de casa Jaqueline Pacheco de Souza, 33 anos, sustentar a casa com a renda de um salário mínimo é muito difícil. A moradora do Morro do Castro, no Fonseca, recebe uma pensão deixada pelo marido e tem que pagar as contas da casa, o seu sustento e o da filha de 10 anos. No início do mês, ela já tem anotado quanto pode gastar para cada situação.

“Assim que eu recebo, eu já separo o dinheiro da luz, que varia entre R$ 25 e R$ 35, e do gás, R$ 42. Como a casa é própria, eu não preciso pagar aluguel. Antes de ir ao supermercado faço a lista de compras e levo uma calculadora, geralmente reservo de R$ 300 a R$ 350 para as compras. Tudo tem que ser bem calculado, do contrário o dinheiro não dá”, conta.

O Censo 2010 também divulgou dados sobre o rendimento mensal per capita nos domicílios de Niterói. Neste quesito a comunidade Morro do Estado aparece como a menor renda, onde aproximadamente 73% das 1.139 casas têm renda per capita de até um salário mínimo. Em seguida aparece Jurujuba e Baldeador, com 66% das casas. Na outra ponta está Itacoatiara e Boa Viagem, ambos os bairros com aproximadamente 62% dos 468 e 843 domicílios, respectivamente, com renda per capita de mais de cinco salários mínimos. Em seguida, aparecem Camboinhas e Icaraí, com aproximadamente 53%.

Diferença nos sexos

Os dados do IBGE também apontaram que, no meio de tantas diferenças na distribuição de renda entre as regiões de Niterói, os bairros com maiores e menores rendimentos mensais medianos se assemelham na desvalorização dos salários das mulheres em relação aos homens, que na cidade é de 32%. Em todos os bairros, a renda mediana dos homens é maior do que das mulheres.

Na Ilha da Conceição, as mulheres ganham 55% a menos que os homens. No bairro, a renda mensal mediana dos homens é de R$ 1 mil, enquanto as mulheres recebem R$ 550. Em Viçoso Jardim, a diferença é de 32%. Baldeador, Ititioca e Viradouro, a diferença entre os rendimentos medianos é de 27%, os homens recebem R$ 700 e as mulheres R$ 510 (salário mínimo na época da pesquisa).

Entre os bairros com maiores rendimentos mensais medianos, a diferença entre homens e mulheres pode chegar a 66%, como é o caso de Gragoatá, onde os homens recebem o rendimento mediano de R$ 3 mil e as mulheres R$1 mil. Em Camboinhas e Santo Antônio, a diferença é de 50% nos salários de homens e mulheres e, na Boa Viagem e Itacoatiara, 40%.

O bairro do Badu é o que apresenta menor diferença entre as rendas, aproximadamente 12%, seguido do Fonseca e do Cubango, onde a diferença é em torno de 16%.

Fonte: Jornal o Fluminense.

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