quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Pela libertação do Brasil


Considero a entrevista com o Brizola Neto uma das melhores que já fizemos. Concedida a Eduardo Sá e Alexandre Braz, a conversa extraiu o melhor do deputado federal (PDT-RJ). Seu pensamento é claro e objetivo, assim como era o do avô: o grande problema do Brasil são as perdas internacionais. É o lucro desmedido e desregulado das multinacionais, via exploração do povo. A armação é omitida pelas corporações de mídia, quando não justificada. Outra operação dessa mídia, aponta Brizola Neto, é a desmoralização da política. “A desmoralização da política é muito conveniente à manutenção dos interesses da grande mídia, dos grandes conglomerados econômicos, essa é a grande realidade. Porque uma classe política desmoralizada não tem condição de mudar nada”. O deputado falou ainda sobre Educação, criminalização da pobreza, Rede Globo e pré-sal, a grande discussão do momento no Congresso Nacional.

Educação
Compromisso com a educação é pegar o dinheiro do orçamento, seja do estado, seja do município ou da União, e botar na educação. Então esse descaso que a gente vê hoje com a educação é justamente isso, é falta de um compromisso verdadeiro. O professor Darcy Ribeiro falava para todo mundo que o CIEP era o maior programa de educação já experimentado no país. Você pega os governadores que sucederam o governo Brizola, por exemplo, o Garotinho não fez uma sala de aula, a Rosinha tampouco, e aí veio o Sérgio Cabral e o que ele fez? O governo dele é uma espécie de negação do que era o governo Brizola.

Criminalização da pobreza
A droga, sem dúvida nenhuma, é usada para criminalizar a pobreza. É isso o que existe hoje no Rio de Janeiro e se você faz uma análise mais profunda, [vê que] isso é mais um exemplo que vem de fora: você pega o exemplo americano, o governo Bush desmontou a rede de proteção social que existia, que era assistência social mesmo, lá tinham várias políticas de renda mínima também e eles desmontaram tudo. Veio um processo de endurecimento do emprego pela automação, mas principalmente postos de baixa qualificação e aqueles que eram destinados aos negros, espanhóis, à camada mais pobre, onde acontece o processo de mais-valia americana. E o que começou a se fazer? Começou a ser um processo justamente de criminalização da pobreza, começaram a se criminalizar os guetos das cidades, a droga foi usada, e se produziu lá a maior população carcerária do mundo.

Brizola x Globo
Olha, isso não era uma briga pessoal, não era uma briga dele com o Roberto Marinho, era uma divergência profunda sobre o pensamento que eles tinham e o que eles queriam para o Brasil. E a própria Rede Globo e o Roberto Marinho não eram um pensamento genuíno, eles eram, na verdade, porta-vozes dos seus anunciantes. A grande imprensa quer passar sempre a idéia de imparcialidade e de apuração dos fatos e a gente sabe que essa imparcialidade não existe, principalmente quando você tem um departamento comercial que precisa de anúncio, precisa de dinheiro para manter a empresa jornalística.

Uma coisa é o jornalismo autêntico, outra coisa é o negócio chamado empresa jornalística. Você tem grandes estruturas midiáticas que durante anos e anos, e ainda hoje, continuam monopolizando a informação no Brasil. Bancadas por quem? Pelos grandes conglomerados econômicos que roubam o excedente da riqueza do Brasil, que sustentam esses meios de comunicação que viram na figura do Brizola um homem a ser combatido.

A Rede Globo e o Roberto Marinho assumem esse papel de serem porta-vozes do estamento multinacional no Brasil, que era justamente a sacada do Brizola: ou você rompia com esse sistema de perdas internacionais ou o Brasil não conseguiria se realizar como nação, não seria uma nação que se realizasse para a sua sociedade e para o seu povo. E, portanto, não teria escola de qualidade, não ia ter professor bem pago, não ia ter um regime de direitos e garantias do trabalho como eles queriam.

Desmoralização da política
Eu tenho certeza que o que faz a principal pauta dos jornais ser a caça às bruxas no Congresso Nacional não é nem o sentimento moralista, não. Porque eles conviveram durante anos com a ditadura militar, com as podridões da ditadura militar, tanto na área da questão dos direitos humanos, mas também nas questões da economia, os abusos que se cometiam. A imprensa permaneceu calada e convivia, tinha lá veículos ao lado como o Estadão, a Folha e O Globo.

Então não é a moralidade que eles querem, não é a moralização do Congresso Nacional, o que eles querem é a desmoralização da política. A desmoralização da política é muito conveniente à manutenção dos interesses da grande mídia, dos grandes conglomerados econômicos, essa é a grande realidade. Porque uma classe política desmoralizada não tem condição de mudar nada.

Pré-sal
A grande discussão do momento dentro do Congresso Nacional, que tem tudo a ver com a história desse sistema de perdas internacionais, é a definição do novo marco regulatório para a exploração da província petrolífera do pré-sal brasileiro. A história do desenvolvimento mundial é a história do controle tecnológico da energia. Você tem a Inglaterra, o carvão mineral, a máquina a vapor, a revolução industrial e o imperialismo inglês, a Inglaterra dominou o mundo. Depois você tem a era do petróleo, o motor a explosão, e o imperialismo americano, então energia e desenvolvimento estão estreitamente associados. Qual é o fato novo? Descobriu-se uma província petrolífera de algumas dezenas de bilhões de barris de petróleo, então isso é alvo da cobiça mundial. Principalmente num momento em que o petróleo está acabando no mundo inteiro e basta ver o que aconteceu no Oriente Médio.

Então a única maneira que a gente tem de assegurar que essa riqueza seja destinada ao povo brasileiro é revogar o crime de lesa pátria que o Fernando Henrique cometeu ao mudar a Constituição abrindo o petróleo. A gente tem que retomar o monopólio estatal do petróleo e tem que nacionalizar de novo a Petrobrás, sem essas duas ações a gente não tem como ter o controle soberano do pré-sal brasileiro.

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