domingo, 27 de dezembro de 2009

Escolas municipais reprovam 49 mil alunos

Escolas municipais reprovam 49 mil alunos

Primeiro ano sem aprovação automática levará outros 55 mil para recuperação

Rio - No primeiro ano sem a aprovação automática, o Município do Rio vai reprovar 49.325 alunos do 3º ao 9º ano por nota e frequência, o que equivale 11,30% da rede, que tem 436.313 matriculados. Outros 55.839, que representam 12,69%, vão fazer segunda época. O número de reprovados não inclui os 28 mil estudantes analfabetos funcionais, que passam por programa especial de aprendizagem nas escolas.

Cláudia lançou o Bairro Educador em escola da Maré. Foto: Divulgação

O maior índice de repetentes (14,72%) está nas unidades de ensino do Centro, Saúde, Benfica, Mangueira, Santo Cristo, Estácio, Rio Comprido, Santa Teresa, São Cristóvão, Bairro de Fátima, Paquetá, Praça 11, Catumbi, Gamboa e Caju, que representam a 1ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), onde estão matriculados 18.060 jovens. Já o menor (4,25%) foi nos colégios da prefeitura localizados em Santíssimo, Senador Vasconcelos, Inhoaíba, Cosmos e Campo Grande, que englobam a 9ª CRE, que tem 45.351 alunos.

A secretária municipal de Educação, Claudia Costin, disse que a quantidade de alunos reprovados era esperada, por causa das deficiências provocadas no aprendizado após a aprovação automática, que entrou em vigor na gestão Cesar Maia. “Se a gente não tivesse feito o processo de realfabetização, esse número de repetência seria bem maior. Os déficits foram se acumulando. De fato, há crianças que não dominam o conteúdo. E há também o professor que resgata um instrumento que ele não tinha antes. Espero que uma porcentagem alta dos alunos que foram para a segunda época consiga superar suas dificuldades agora”, explicou a secretária.

Os alunos de recuperação vão fazer prova em 18 de janeiro. O resultado será divulgado no dia 21. Dos 49.325 reprovados, 7.632 são por falta. Eles não cumpriram os 75% de frequência mínima nas aulas exigidos por lei. O 6º ano — que concentra grande parte dos analfabetos funcionais da rede — é a série que teve o maior número de repetência por este motivo: 2.064. Em seguida, aparece o 8º ano, com 1.202. As escolas com maior percentual de faltosos que vão repetir série, 3,49% do total (1.069 alunos), são as que englobam a 6ª CRE, correspondente aos bairros de Parque Anchieta, Ricardo de Albuquerque, Pavuna, Acari, Barros Filho, Irajá, Deodoro, Guadalupe, Costa Barros, Coelho Neto e Anchieta. Já a 9ª CRE (Campo Grande e região) foi a que teve o menor percentual de reprovados neste aspecto: 0,24% (107 alunos).

Por nota nas disciplinas, estão 41.693 dos reprovados. O 6º ano, assim como na questão das faltas, é o que teve mais repetentes: 18.022. Nesse quesito, é a 1ª CRE que aparece como líder no ranking de repetência. Dos 18.060 estudantes, 13,54% (2.445) perderam o ano. Para a secretária, tem que haver empenho dos pais para que os estudantes que vão repetir de série não fiquem desestimulados e abandonem os estudos. “Quando a gente entregou o boletim, os pais assinaram um documento se comprometendo com os estudos das crianças que estão na segunda época. Eles têm papel fundamental no aprendizado e precisam entender que reprovação não significa incompetência”, disse ela, lembrando que as salas de leitura estarão abertas durante as férias para receber os alunos que estão de recuperação e não têm espaço para estudar em casa. Um diagnóstico vai ser feito para descobrir por que algumas escolas tiveram tantos alunos reprovados.

Também ontem foi apresentado o resultado das provas do quarto bimestre. O Ciep Glauber Rocha, na Pavuna, foi o que teve melhor desempenho entre os alunos do 2º ao 5º ano. A média de Matemática e de Português ficou acima de nove. O Ciep 1º de Maio, em Santa Cruz, foi o destaque entre as Escolas do Amanhã. A Ministro Alcides Carneiro, em São Geraldo, no Mendanha, foi o melhor do 6º ao 9º. Na média geral, o aproveitamento das duas disciplinas caiu 12% no 5º ano e aumentou 71,7% no 8º ano.

Foco na autoestima dos estudantes

Diretora do Ciep Primeiro de Maio, em Santa Cruz, Sueli Pontes Gaspar, 50 anos, contou que a fórmula do sucesso dos alunos, muitos de comunidades carentes, é investir na autoestima. “Digo assim: vocês não têm que ter medo da prova, é a prova que tem que ter medo de vocês. Ali, não temos diferença. Não ter condições financeiras não é desculpa para não ir bem nas avaliações, e eles já entenderam isso”.

Para a diretora Janete Braga Castilho, 54, que está à frente da Escola Ministro Alcides Carneiro, no Mendanha, o segredo é conscientizar as crianças de que elas são capazes de ter um futuro melhor. “Tenho 560 alunos que moram na Favela Carobinha. Isso nunca foi problema. Na escola, não faz diferença. O aprendizado é caminho e futuro para que eles possam vislumbrar uma realidade diferente”.

Avanços entre os analfabetos

Cerca de 80% dos alunos do quarto e quinto anos — o que representa 10.184 jovens — identificados como analfabetos funcionais já conseguem ler frases e pequenos textos. E 60% deles já estão aptos a escrever. A informação foi divulgada pela secretária municipal de Educação, Claudia Costin, ontem, no lançamento do Programa Bairro Educador, no Ciep Operário Vicente Mariano, na Maré. Ela disse ainda que os alunos do 6º ano, que também estão na mesma situação, também apresentaram avanços. O grande entrave é o ainda elevado número de faltas.

O Bairro Educador, que já foi implantado na Cidade de Deus e no Alemão, prevê a capacitação de professores e a implementação de atividades extracurriculares, como oficinas de dança e pintura. Segundo a secretária, a ideia é mostrar que, mesmo em bairros violentos, as crianças podem ter educação de qualidade. “Nós queremos descobrir talentos entre esses jovens para valorizar a comunidade. Assim, as crianças vão sentir orgulho de dizer que moram na Maré”, afirma.

Costin ainda informou que a Escola Municipal Nova Holanda, também na Maré, vai ganhar um novo prédio em fevereiro. “A Nova Holanda tem ótima qualidade de ensino, mas uma péssima estrutura física. Por isso, os estudantes vão ganhar um novo prédio de presente de Natal”, conta.

Apesar das boas notícias, Claudia garantiu que alguns estudantes serão reprovados. “Como secretária e cidadã, eu me sinto culpada pelas reprovações. Mas também fico feliz porque muitas crianças da rede municipal passaram nas provas de grandes escolas, como Cefet e Colégio Militar”, diz.

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